Hoje, Dia Internacional da Mulher,
dedico-vos este texto que talvez seja
história antiga ( ou talvez não...)
-Menina, menina! Toma cuidado.
Não deixes que os rapazes te toquem.As tias avós diziam-lhe aquilo, constantemente. Marcavam-lhe a diferença de ser menina.
Coisa feminina, coisa intocável até um dia, guardado, secreto.
-Agora já és mulher. É uma grande responsabilidade. E tu, tão novinha… Cuidado, filha!
Era novinha, sim. E aquela palavra cuidado, a responsabilidade de ser mais uma vez feminina, marcada por um Deus em que ainda tentava acreditar e que todos os meses a fazia dolorosamente lembrar-se de que era “mulher”…
Em si, ela começava a sentir raiva daquela diferença. Desejava ser rapaz, homem, descuidado. Desenvolveu padrões de agressividade para lidar com tudo o que considerava discriminação. De sexo ou com qualquer outra motivação. Talvez as palavras dos membros femininos da família a tenham marcado nas suas relações de afecto, de trabalho. Talvez fosse irremediável a sua sensibilidade exagerada ao que quer que fosse que lhe soasse a inferioridade resultante da sua condição de mulher.
O orgulho de ser feminina veio-lhe primeiro da maternidade. Misturado com a noção que existiam, de facto, questões em que ser mulher era uma enorme responsabilidade mas também uma extraordinária alegria.
Percebeu depois que mulher é igual e diferente.
Não da forma que as mulheres da família lhe tinham dito. Mas na capacidade de doação de si própria, na intuição do olhar que tenta entender o que está por trás de outros olhares. Aceitou essa “diferença”.
Abraçou o ser feminino que há tanto tempo a marcava, parte de si mas não condição limitante da sua vida.
1 Comments:
Gosto da tua forma de escrita. Gosto de te "ler".
Um desafio... aguardo mais post´s.
Tens sensibilidade e musicalidade no que escreves e isso é interessante.
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